Como
comunicar o paciente sobre o câncer
Apesar de todos os avanços científicos e
tecnológicos, o câncer ainda é uma doença associada à possibilidade de
sofrimento físico, emocional e morte. O nível social, econômico e cultural,
além de gênero e idade, são alguns dos fatores que interferem no grau de
impacto psicológico que o diagnóstico de doença grave pode causar no indivíduo.
(CAVALCANTI DR, 2005) Tanto para muitos profissionais, quanto para o doente e
sua família, o diagnóstico de câncer continua sendo uma sentença de morte.
Pouca ênfase tem sido direcionada ao treinamento de habilidades e técnicas em
comunicação e avaliação do fator psicossocial, requisitos essenciais para um
atendimento adequado de pacientes oncológicos. Os profissionais dependem então,
de sua experiência e julgamento pessoais em relação à decisão de informar ao
paciente sobre sua doença, bem como, sobre a melhor maneira de comunicar e em
que momento fazê-lo. (CAVALCANTI DR, 2005 e GOMES et al. 2009)
De acordo com Fitch, 2006 , os pacientes
com doença progressiva e incurável, precisam compreender o que está acontecendo
consigo e com seus corpos. "Eles
precisam participar dos processos de tomada de decisão sobre como vão viver os
dias remanescentes". (FITCH MI, 2006) Acredita-se que, especialmente na
área da cancerologia, o esclarecimento a respeito das possibilidades
terapêuticas, deve envolver um diálogo aberto entre o profissional da saúde e o
paciente, tendo em vista a, necessidade de realizar procedimentos mutilantes, que
muitas vezes são a única chance de cura para aquele doente. (KOVÁKS
MJ, 2006) E,
mesmo quando não houver possibilidade de cura, o paciente deve ser orientado em
relação aos tratamentos paliativos aos quais poderá ser submetido,
esclarecendo-os sobre os benefícios dos mesmos para a melhora de sua qualidade
de vida. Para que a comunicação da verdade seja moralmente boa, deve-se prestar
atenção a o que, como, quando, quanto, quem e a quem se deve informar,
exigindo-se muita prudência. (KOVÁKS
MJ, 2006)
Vale dizer que, comunicar uma notícia não
é simplesmente informar e desaparecer, trata-se de um processo que leva tempo e
que deve ser realizado em várias etapas. Sabe-se que, algumas informações terão
de ser dadas repetidas vezes, já que pessoas em grave impacto emocional
geralmente não absorvem aquilo que ouvem, (KOVÁKS MJ, 2006) mesmo
que a linguagem utilizada seja compreensível. (GOMES et al. 2009)
Geralmente os pacientes desejam receber
toda informação possível e preferem a presença de um familiar próximo, e sua
maior angústia é a espera para a confirmação do diagnóstico. A terminologia utilizada pelo
profissional, suas habilidades pessoais de simpatia, compreensão, ouvir com
atenção, transmitir respeito e prover esperança; são condições importantes para
o ajuste emocional do paciente à doença. (CAVALCANTI DR, 2005 e ROBERTS et al.
1994)
Em alguns países, no curso de medicina, é
ensinado para seus alunos como fazer a comunicação de diagnóstico de lesões
graves. Um dos modelos adotados para esta finalidade é o chamado Modelo de
comunicação de diagnóstico, da Universidade do Texas M. D. Anderson Cancer
Center – Houston , também conhecido como protocolo de “Spikes”.
De maneira resumida e simplista, os
passos do protocolo “Spikes” seriam:
1)Criar
um ambiente apropriado, buscando privacidade e conforto para o paciente, tempo
ininterrupto, possibilitar ao paciente sentar-se de forma que seus olhos fiquem
ao nível dos olhos de quem está comunicando;
2)Verificar
a percepção do paciente em relação ao seu problema; como por exemplo a
pergunta: “Fale-me o que você pensa sobre a razão dos exames que fizemos”.
3)Obter
informação sobre o desejo do paciente em ser informado dos detalhes da sua
condição médica; como por exemplo: “Quando os resultados dos exames estiverem
completos, você é o tipo de pessoa que quer saber tudo...”
4)Fornecer
conhecimento e informação ao paciente, informando por partes pequenas, checando
a compreensão dele constantemente,
5)Enfatizar
que você compreende emoções expressas pelo paciente; como por exemplo no caso
do choro: “ ... eu entendo que você não estava esperando este tipo de
notícia...”
6)Fazer
um resumo do que você falou e envolve-lo em suas estratégias de tratamento ou
acompanhamento.
●Porém nem sempre é possível comunicar o
paciente sobre sua condição de doente, assim, comunicação do diagnóstico é
contraindicada em segundo Sprosser et
al. 1997 em:
Ø Casos
de pacientes muito jovens, ou quando suas condições físicas ou psicológicas não
permitam uma correta compreensão de sua doença.
Ø Quando
o profissional, mesmo que legalmente competente, não esteja devidamente
preparado para o estabelecimento de um diagnóstico.
Tendo em vista o fato de o cirurgião
dentista ter a responsabilidade de diagnosticar e transmitir resultados de
algumas doenças graves, em especial o câncer bucal, a pacientes e familiares,
este tipo de conduta deveria ser melhor discutida, revista e ensinada para os
profissionais da saúde, de forma que consigam desenvolver suas habilidades de
comunicação deste tipo de noticia a seus pacientes.