sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Como comunicar o paciente que ele tem câncer?

Como comunicar ao paciente que ele tem câncer?

Apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos, o câncer ainda é uma doença associada à possibilidade de sofrimento físico, emocional e morte. O nível social, econômico e cultural, além de gênero e idade, são alguns dos fatores que interferem no grau de impacto psicológico que o diagnóstico de doença grave pode causar no indivíduo. (CAVALCANTI DR, 2005) Tanto para muitos profissionais, quanto para o doente e sua família, o diagnóstico de câncer continua sendo uma sentença de morte. Pouca ênfase tem sido direcionada ao treinamento de habilidades e técnicas em comunicação e avaliação do fator psicossocial, requisitos essenciais para um atendimento adequado de pacientes oncológicos. Os profissionais dependem então, de sua experiência e julgamento pessoais em relação à decisão de informar ao paciente sobre sua doença, bem como, sobre a melhor maneira de comunicar e em que momento fazê-lo. (CAVALCANTI DR, 2005 e GOMES et al. 2009)
De acordo com Fitch, 2006, os pacientes com doença progressiva e incurável, precisam compreender o que está acontecendo consigo e com seus corpos. "Eles precisam participar dos processos de tomada de decisão sobre como vão viver os dias remanescentes". (FITCH MI, 2006) Acredita-se que, especialmente na área da cancerologia, o esclarecimento a respeito das possibilidades terapêuticas, deve envolver um diálogo aberto entre o profissional da saúde e o paciente, tendo em vista a, necessidade de realizar procedimentos mutilantes, que muitas vezes são a única chance de cura para aquele doente. (KOVÁKS MJ, 2006) E, mesmo quando não houver possibilidade de cura, o paciente deve ser orientado em relação aos tratamentos paliativos, aos quais poderá ser submetido, esclarecendo-os sobre os benefícios dos mesmos para a melhora de sua qualidade de vida. Para que a comunicação da verdade seja moralmente boa, deve-se prestar atenção a o que, como, quando, quanto, quem e a quem se deve informar, exigindo-se muita prudência. (KOVÁKS MJ, 2006)
Vale dizer que, comunicar uma notícia não é simplesmente informar e desaparecer, trata-se de um processo que leva tempo e que deve ser realizado em várias etapas. Sabe-se que, algumas informações terão de ser dadas repetidas vezes, já que pessoas em grave impacto emocional, geralmente não absorvem aquilo que ouvem, (KOVÁKS MJ, 2006) mesmo que a linguagem utilizada seja compreensível. (GOMES et al. 2009)
Geralmente os pacientes desejam receber toda informação possível e preferem a presença de um familiar próximo, e sua maior angústia é a espera para a confirmação do diagnóstico. A terminologia utilizada pelo profissional, suas habilidades pessoais de simpatia, compreensão, ouvir com atenção, transmitir respeito e prover esperança; são condições importantes para o ajuste emocional do paciente à doença. (CAVALCANTI DR, 2005 e ROBERTS et al. 1994)
Em alguns países, no curso de medicina, é ensinado para seus alunos, como fazer a comunicação de diagnóstico de lesões graves. Um dos modelos adotados para esta finalidade é o chamado Modelo de comunicação de diagnóstico, da Universidade do Texas M. D. Anderson Cancer Center – Houston, também conhecido como, protocolo de “Spikes”.
De maneira resumida e simplista, os passos do protocolo “Spikes” seriam:

1)    Criar um ambiente apropriado, buscando privacidade e conforto para o paciente, tempo ininterrupto, possibilitar ao paciente sentar-se de forma que seus olhos fiquem ao nível dos olhos de quem está comunicando;
2)    Verificar a percepção do paciente em relação ao seu problema; como por exemplo a pergunta: “Fale-me o que você pensa sobre a razão dos exames que fizemos”.
3)    Obter informação sobre o desejo do paciente em ser informado dos detalhes da sua condição médica; como por exemplo: “Quando os resultados dos exames estiverem completos, você é o tipo de pessoa que quer saber tudo...”
4)    Fornecer conhecimento e informação ao paciente, informando por partes pequenas, checando a compreensão dele constantemente,
5)    Enfatizar que você compreende emoções expressas pelo paciente; como por exemplo no caso do choro: “ ... eu entendo que você não estava esperando este tipo de notícia...”
6)    Fazer um resumo do que você falou e envolve-lo em suas estratégias de tratamento ou acompanhamento.

Porém nem sempre é possível comunicar o paciente sobre sua condição de doente, assim, comunicação do diagnóstico é contraindicada em, segundo Sprosser et al. 1997:
Ø  Casos de pacientes muito jovens, ou quando suas condições físicas ou psicológicas não permitam uma correta compreensão de sua doença.
Quando o profissional, mesmo que legalmente competente, não esteja devidamente preparado para o estabelecimento de um diagnóstico. 


Ana Cláudia Ramin Silva